sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Nunca me disseram que é preciso ouvir.

   Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para que não possa ouvir;
Isaías 59:1


   Imagine a seguinte situação: Você está no trabalho e descobre que o seu marido fez uma besteira daquelas! Algo que te deixou muito, mas muito irritada mesmo! Você tem vontade de matá-lo, de torcer o pescoço dele! Você percorre todo o caminho até em casa pensando em dizer-lhe poucas e boas, vai ensaiando mentalmente todas as verdades que sente NECESSIDADE de despejar na cara do sujeito. Se sente tão, mas tão irritada que nem mesmo consegue encontrar palavras suficientes para expressar. Tenta encontrar a melhor maneira de externar seus sentimentos mas quanto mais pensa no ocorrido e nas coisas que deseja dizer, percebe que tais palavras, e tal maneira não existem pois ainda não se inventou nenhuma forma de expressão capaz de traduzir o turbilhão de sensações e emoções que carrega dentro de si. Então você chega em casa, olha bem pro rosto dele, e decide que como não existem palavras certas vai utilizar as erradas mesmo! Tem vontade não só de falar mas de chorar, de gritar a plenos pulmões pra ele entender ao menos um pouquinho da extensão da sua fúria. E então quando finalmente você abre a boca e começa a falar ele rapidamente enfia um chocolate na sua boca e te manda ficar quieta! Imaginou a cena? Não entendeu? Achou estranho? Pensou que pirei de vez? Calma que eu explico. Isso é chupeta! Pois é, chupeta! Talvez você nunca tenha parado pra pensar a respeito, talvez não tenha se dado conta, mas fique sabendo que é exatamente isso que se faz quando se coloca uma chupeta na boca de um bebê.
   Eu poderia citar os inúmeros malefícios cientificamente comprovados, causados pela dita cuja, e que vão desde prejuízos a amamentação até mesmo o comprometimento da formação facial do bebê(mais informações aqui) mas não vou fazer isso. Quero propor olharmos o assunto de outro angulo, quero falar de relação, de comunicação. Quero lembrar que todo ser humano nasce com uma necessidade que embora esquecida e negada por muitos, é vital: A necessidade do outro. Somos seres sociais, seres que se reconhecem através de suas relações, e estas relações só podem ser estabelecidas através da comunicação. O choro é a única forma de comunicação de um bebê, é a sua única linguagem conhecida. É a única maneira de expressar a confusão de sensações, e sentimentos causados pelas descobertas de um serzinho tão frágil que acaba de chegar nesse mundo louco. E por mais obvio que isso pareça nos recusamos a enxergar. Passamos a olhar apenas para nós, para o nosso cansaço, para as nossas dificuldades, para a nossa necessidade de silencio. Nos recusamos a ver, a compreender, a ouvir, sentimos necessidade de silenciar esse choro, de calar essa voz o mais depressa possível, e fazendo isto esquecemos quem realmente precisa de compreensão. Calamos o choro, mas não suprimos a necessidade, silenciamos o grito dos lábios, mas não o do coração. E fazemos tudo por um único motivo: O choro de um bebê nos tira da nossa zona de conforto. Nos obriga a sair do nosso mundinho para entender a necessidade de outro ser. E esse movimento pode ser difícil, por vezes desesperador. Mas vale a pena! Cada choro, cada som balbuciado, cada palavra dita por um filho, por mais simples que pareça, é um tijolinho na construção de um relacionamento, que será cada vez mais forte, se pautado na certeza de ser ouvido. Não quero com isso criticar quem usa, ou já usou a tal chupeta com seus filhos, mas apenas propor uma reflexão sobre os motivos que te levaram a isso. Se foi por falta de informação, em achar que estava atendendo uma necessidade do bebê, se estava atendendo suas próprias necessidades, ou qualquer outro motivo. É importante reconhece-los e independente deles estar disposto a seguir em frente. Sempre é tempo de reconstruir, e de dizer a um filho: Pode falar, eu quero te ouvir!


Que o Deus fiel e verdadeiro que sempre ouve seus filhos seja contigo!


Amo ao SENHOR, porque ele ouviu a minha voz e a minha súplica.

Porque inclinou a mim os seus ouvidos; portanto, o invocarei enquanto viver.


Salmos 116:1-2

2 comentários:

  1. Muito bom o texto, Rayra! É importante refletir sobre a comunicação, uma das grandes dificuldades que temos hoje em dia uns para com os outros. Nunca seremos mães perfeitas, mas poderemos ser cada dia um pouquinho melhores se nós permitirmos simplesmente escutar a cria e compreender suas necessidades.

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    1. Que bom que gostou Cell, concordo com você. Escutar e compreender sempre é o melhor caminho.

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